Originalmente o bullying é uma expressão para sinalizar
o assédio moral praticado entre crianças e adolescentes, no entanto, nos anos de
2007 até 2011, ganhou enumeras variantes como o moblie bullying (bullying
por mensagens de celular) e confundido com o mobbing, conhecido nos Estados Unidos e Inglaterra como bullying at the work e cyberbullying (bullying em ambiente
virtual).
O bullying
é um gênero de uma espécie de agressão denominada assédio moral, pois, segundo
o conceito de Marie- France Hirigoyen[1], o
assédio moral é um conjunto de atitudes perniciosas e imperceptíveis,
praticadas no dia-a-dia, com a finalidade de humilhar o outro de forma
perversa.
A exposição contínua
aos ataques do bullying torna suas
vítimas inseguras e pouco sociáveis, ato que dificulta o pedido de auxílio.
Outras sequelas são: a passividade quanto às agressões sofridas, um círculo
restrito de amizades, e muitos passam a ter baixo rendimento escolar,
resistindo e simulando doenças com o interesse de não comparecer mais as aulas,
ou até mesmo abandonando os estudos, e em casos mais sérios pode levar ao
suicídio[2].
Conforme
o professor Gustavo Teixeira[3],
as vítimas de bullying apresentam
comportamentos típicos.
Esse
perfil psicológico é valioso para identificar vítimas de bullying sem expô-las a situações de inquirição direta, que são, na
maioria das vezes, vexatórias. Vamos a análise desses perfis:
Conquista
poucos amigos;
Desinteressa-se
pelos estudos;
Passa
o recreio sozinho;
Não
possui um “melhor amigo”;
Tem
medo de ir à escola;
Chega
em casa com material rasgado;
Tem
o dinheiro e outros pertences pessoais roubados com frequência;
Evita
atividades escolares em grupo como passeios e ou atividades esportivas;
É
xingado e ridicularizado ou recebe apelidos pejorativos por colegas da sala;
É
agredido fisicamente sem ser capaz de se defender.
Nunca
vai à casa de um colega da escola;
É
excluído de brincadeiras em grupo;
Normalmente
é o último a ser escolhido nos times de educação física;
Parece
estar sempre desmotivado para ir à escola;
Fica
inseguro e angustiado nos momentos de saída e entrada da aula;
Prefere
a companhia de adultos na hora do recreio;
Mostra-se
inseguro na sala de aula;
Diz
preferir ficar sozinho na escola sem ter uma explicação para isso;
Nunca
é convidado para festas de aniversário dos colegas da escola;
Apresenta
queixas físicas como dores de cabeça enjoo ou indisposição nos momentos
antecedentes à aula;
Quer
mudar de escola, sem apresentar um motivo plausível.
Esses
comportamentos geram um estado constante de estresse físico e mental que, em
muitas vezes, resultam em graves patologias.
Para
compreendermos os males do bullying
na vida cotidiana das vítimas, é necessário compreender como o estresse age no
corpo humano.
Vejamos
o conceito de estresse e suas peculiaridades técnicas.
Estresse
é essencialmente o grau de desgaste no corpo, que produz certas modificações na
estrutura e na composição química. Algumas dessas modificações são sintomas de
lesão física, outras são reações de adaptação que, servem como mecanismo de
defesa contra o estresse.
O
conjunto dessas modificações é conhecido como síndrome do estresse, é
denominada como síndrome de adaptação geral (SAG), desenvolvida em três fases:
reação de alarme, fase de resistência e fase da exaustão[4].
A
reação de alarme subdivide-se em dois estágios,
a do choque e a do contra-choque. As alterações fisiológicas
na fase de choque o indivíduo experimenta o estímulo estressor demasiadamente
intenso.
Durante a Reação de Alarme, participa ativamente do conjunto
das alterações fisiológicas o Sistema Nervos Autônomo (SNA). Este sistema
trata-se de um conjunto neurológico que controla, de forma autônoma, todo o
meio interno do organismo, através da ativação e inibição dos diversos
sistemas, vísceras e glândulas[5].
Em outras palavras, as reações corporais
desenvolvidas nesta fase são: dilatação das pupilas; estimulação do coração (palpitação), a noradrenalina,
produzida nas glândulas supra-renais acelera os batimentos cardíacos e provoca
uma alta de pressão arterial, o que permite uma melhor circulação do oxigênio;
a respiração se altera (tornando-se ofegante) e os brônquios se dilatam para
poderem receber maior quantidade de oxigênio; aumento na possibilidade de
coagulação do sangue (para assim poder fechar possíveis ferimentos); o fígado
libera o açúcar armazenado para que este seja usado pelos músculos;
redistribuição da reserva sangüínea da pele e das vísceras para os músculos e
cérebro; frieza nas mãos e pés; tensão nos músculos; inibição da digestão (inibição
da produção de fluidos digestivos, inibição dos movimentos peristálticos do
percurso gastrointestinal); Inibição da produção de saliva (boca seca)[6].
A Fase de
Resistência caracteriza,
basicamente, pela hiperatividade da glândula supra-renal sob influência do Hipotálamo, particularmente
da Hipófise. Nesta fase,
mais aguda, ocorre o aumento no volume da supra-renal, juntamente a uma atrofia
do baço e das estruturas linfáticas, assim como um continuado aumento dos
glóbulos brancos do sangue (leucocitose).
Dessa
forma, a ação da Hipófise ao ativar todo o Sistema Endócrino ocorre porque o organismo precisa aumentar
a concentração da quantidade de energia para a sua defesa. As descargas
simpáticas na camada medular da Glândula
Suprarrenal, ocasiona a liberação de catecolaminas nas situações
emergenciais do estresse, ativando a glicogenólise no líquido extra-celular, e
glicogênese no fígado, inibindo a insulina e estimulando o glucagon, estes dois
últimos hormônios pancreáticos[7].
De forma simplificada na fase de
resistência o organismo é provido com fontes de energia rapidamente
mobilizadas, aumentando a potencialidade para outras ações no caso de novos
perigos imediatos serem acrescentados ao seu quadro de "Estresse" contínuo. O organismo procura
ajustar-se a situação em que se encontra[8].
Na fase de exaustão há uma queda na
imunidade e surgimento de doenças, como: dores vagas; taquicardia;
alergias; psoríase; caspa e seborréia; hipertensão; diabete; herpes; graves
infecções; problemas respiratórios (asma, rinite, tuberculose pulmonar);
intoxicações; distúrbios gastrointestinais (úlcera, gastrite, diarréia,
náuseas); alteração de peso; depressão; ansiedade; fobias; hiperatividade;
hipervigilância; alterações no sono (insônia,
pesadelos, sono em excesso); sintomas cognitivos como dificuldade de aprendizagem, lapsos de memória, dificuldade de
concentração; bruxismo o que pode ocasionar a perda de dentes; envelhecimento; distúrbios no
comportamento sexual e reprodutivo[9].
Ao
explanarmos sobre todas as alterações biológicas que estresse causa a uma
vítima, conclui-se com certeza que este estado físico compromete as relações
sociais e acadêmicas de um aluno que é exposto continuamente as agressões do bullying.
Em
casos nos quais a vítima é exposta sem trégua ao assédio moral do tipo bullying, é comum notar o acometimento
de baixa auto estima e depressão em seus vários estados, o que necessita de
acompanhamento profissional para amenizar os efeitos psicológicos da agressão.
Observemos
os conceitos de depressão e seus efeitos psicossomáticos em suas vítimas.
A
depressão, em especial nos casos de bullying,
está intimamente ligada a perda ou a baixa da autoestima, a ausência de amor
próprio é um dos sintomas mais característicos do bullying.
Conforme
Andrew Solomon, a depressão “é a imperfeição no amor. Para podermos amar,
temos que ser criaturas capazes de se desesperar ante as perdas, e a depressão
é o mecanismo desse desespero. Quando ela chega, degrada o eu da pessoa e
finalmente eclipsa sua capacidade de dar ou receber afeição[10]”.
A depressão deve ser acompanhada por sofrimento
ou prejuízo clinicamente significativo nas relações sociais, profissionais ou
por outras áreas da vida cotidiana do indivíduo[11].
A manifestação típica da depressão depende sempre
da maneira como ocorreu o episódio depressivo, ou, da forma atípica quando a
depressão se manifesta sem a ocorrência de qualquer episódio depressivo[12].
Conforme
o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais,[13]
os transtornos depressivos são classificados da seguinte forma:
Transtorno
Depressivo Maior é caracterizado quando há um ou mais episódios depressivos
maiores como humor deprimido e perda de interesse, por pelo período mínimo de duas
semanas e acompanhados por quatro sintomas comuns da depressão.
Transtorno
Distímico é caracterizado por humor deprimido durante o período mínimo de dois
anos, acompanhado por sintomas depressivos adicionais que não satisfazem os
critérios para um episódio depressivo maior.
Transtorno
Depressivo Sem Outra Especificação[14]
são os transtornos com características depressivas que não satisfazem os
critérios para:
Transtorno Depressivo Maior,
Transtorno
Distímico,
Transtorno
da Adaptação Com Humor Depressivo ou,
Transtorno
da Adaptação Misto de Ansiedade e Depressão.
A
partir desses conceitos concluí-se que o bullying é um tipo de assédio moral que
causa danos morais e materiais para a vítima.
Concluí-se também que a vítima do bullying desenvolve um processo
depressivo devido à alta carga de estresse diário, o que compromete sua psique e
seu físico, impedindo-a de praticar a contento suas atividades sociais e acadêmicas.
Concluí-se
finalmente que, este estado doentio do corpo e da mente necessita de tratamento
especializado, o que despende dinheiro e tempo dos familiares da vítima.
ALEXANDRE
SALDANHA
OAB-PR nº
47.535
|
ADVOGADO,
ESCRITOR, CIENTISTA, PALESTRANTE, ATIVISTA SOCIAL, BLOGUEIRO.
FUNDADOR DA
LIGA ATNI-BULLYING
ESPECIALISTA
EM BULLYING
ESPECIALISTA
EM MOBBING
ESPECIALISTA
EM DIREITOS DA PERSONALIDADE
PÓS-GRADUADO
EM DIREITO CIVIL
PÓS-GRADUADO
EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL
|
[1] Fante, Cleo,
Bullying escolar: perguntas & respostas/ Cleo Fante José Augusto
Pedra.-Porto Alegre: Artmed 2008, p.76
[2] Abrapia. Associação Brasileira Multiprofissional
de Proteção a Infância e a Adolescência Programa de redução do comportamento
agressivo entre estudantes, disponível em:http:// www.bullyng.com.br, acesso em
20/jun/2007.
[3] Teixeira Gustavo, Manual
Antibullying para alunos, pais, e professores, Rio de Janeiro, Best-seller,
2011, p.64 à p 66.
[4] Seleye Hans, Stress a tensão da
vida, Editora Ibrsa, 1965, p.01.
[5] Ballone GJ, Moura EC - Estresse - Fisiologia -
in. PsiqWeb, Internet, disponível emwww.psiqweb.med.br, revisto em 2008.
[6] Fonte: http://www.marcelomarcia.na-web.net/estresse.html,
acessado dia 30 de novembro de 2012, às 14h: 37 min.
[7] Ballone GJ, Moura EC - Estresse
- Fisiologia - in. PsiqWeb, Op.Cit.
[8]
Fonte: http://www.marcelomarcia.na-web.net/estresse.html,
Op. Cit.
[9] Fonte: http://www.marcelomarcia.na-web.net/estresse.html,
idem.
[10] Solomon Andrew, O demônio da
meia noite: uma anatomia da depressão, Rio de Janeiro, Objetiva, São Paulo,
p.17.
[11] Joubert, J., Reid, C., Joubert, L., Barton, D.,
Ruth, D., Jackson, D., Sullivan, J. O., & Davis, S. M. (2006). Risk
factor management and depression post-stroke: The value of an integrated model
of care. Journal of Clinical
Neuroscience, 13(1), 84-90.
[12]
Paula, Margareth Pereira
de; Pinto, Kátia Osternack e Lucia, Mara Cristina Souza de. Relação
entre depressão e disfunção cognitiva em pacientes após acidente vascular
cerebral: um estudo teórico. Psicol.
hosp. (São Paulo) [online].
2008, vol.6, n.1, pp. 21-38. ISSN 1677-7409.
[13] Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (2002). DSM-IV-TR. 4ª ed., Texto Revisado. São Paulo: Artmed
[14]
Paula, Margareth Pereira
de; Pinto, Kátia Osternack e Lucia, Mara Cristina Souza de. Relação
entre depressão e disfunção cognitiva em pacientes após acidente vascular
cerebral: um estudo teórico. Op.Cit.