As
relações humanas passam por uma lenta degeneração de seus valores, sobre tudo
nos últimos trinta anos em que o mundo observou atônita a sedimentação da
cultura do ter, do parecer ser, do balizamento massificado das visões sociais
do sujeito para que este pudesse encontrar suporte emocional e sentir-se aceito
em algum dos seguimentos sociais.
Pois
bem, é acertado então dizer que com o advento da internet as pessoas
tornaram-se mutuamente ligadas e a solidão deixou de ser um dos males da alma
humana posto que a conectividade diminuiu distancias e quebrou fronteiras.
Contudo,
há de se ponderar que o evolutivo passo seguinte da conectividade humana
tornou-se também um instrumento de dissimulação das incapacidades interativas
interpessoais.
Com o advento das redes sociais as
pessoas tiveram a possibilidade de conectarem-se com o mundo sem sair de suas
casas. No entanto tornam-se repletas de relações superficiais e vazias de
ligações emocionais em que a falsa sensação de bem querer social trazida pela
gigantesca exposição social que se constrói com as múltiplas conexões virtuais
que se é capaz de fazer.
Num
mundo virtual todos sabem da vida de todos sem que nenhuma dessas relações
sejam justapostas profundamente.
Essas
relações poeiras são as causadoras da perpetuação de alguns dos mais antigos
problemas sociais como a individualidade egoísta, a competitividade excessiva,
o preconceito, a vaidade, a violência sem rosto e a depressão.
Com
a perda progressiva das capacidades de se relacionarem fisicamente e
emocionalmente uns com os outros as pessoas tornam-se meros avatares de seus
alter egos embasados em seus bens materiais que ignoram a si mesmo com a
finalidade de uma imediata aceitação social que não leva em conta as emoções
individuais capazes de construir verdadeiras relações de interesse no outro,
sendo esta última a verdadeira forma de relação intersubjetiva social.
É
preciso conhecer o outro de fato, conversando, enxergando, tendo a presença
para que seja possível atentar-se para a genuína forma de reação emocional,
percebendo realmente as capacidades e limitações do interlocutor, para aí
concluir sobre suas belezas que tornem o outro necessário.
Não
há como conceber relações concretas sem a observação profunda do comportamento
humano e de suas reações emocionais. Os vínculos arraigados em redes sociais
são incapazes não dão importância para a profundidade posto que para que se
agrade a muitos é preciso deixar de ser a si mesmo.
A
solução que amenizará o efeito da liquefação das relações interpessoais é o
redescobrimento por parte da sociedade da importância das relações sólidas construídas
com o vagar do convívio considerando os sentimentos e pensamentos de cada um
sem deixar de lado a própria personalidade em prol da passageira aceitação
tribal ou da falsa sensação de acalento das passageiras e rasas relações
cibernéticas.
Alexandre Saldanha
Advogado, Escritor, Especialista em Bullying, Mobbing e Direitos da Personalidade.
BIBLIOGRAFIA
Bauman
Zygmunt, A VIDA LÍQUIDA, Editora ZAHAR. 1999. 2076 pg;
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Zygmunt, A MODERNIDADE LÍQUIDA, Editora ZAHAR. 2001, 260 pg;
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Zygmunt, AMOR LIQUIDO, SOBRE A FRAGILIDADE DOS LAÇOS HUMANOS, Editora ZAHAR.
2004, 162 pg.
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