Pesquisa revela que jovens acima do peso
são os mais agredidos na escola
Quase
três entre dez jovens estão acima do peso no Brasil, mas o risco que eles
correm não se limita à saúde. Segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), divulgada na última semana, os gordinhos são também
as maiores vítimas de bullying na escola, principalmente nas particulares. Do
total de adolescentes obesos, 63% dos que estudam na rede privada sofrem algum
tipo de agressão. Na rede pública, o número é um pouco menor, 54%, mas não
menos preocupante.
As
consequências são grandes. Além de depressão, insônia, falta de vontade de
socializar com os colegas e baixa autoestima, muitas das vítimas chegam a
pensar – ou cometer – suicídio. De acordo com o professor de Psicologia da
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Cloves Amorim, que estuda
bullying há mais de uma década, os problemas não param por aí. É também comum
que os jovens tenham dificuldade com o início da atividade sexual, por não se
sentirem seguros com o próprio corpo.
Tudo
isso leva ao isolamento e pode, inclusive, prejudicar o desempenho escolar,
pois ir à aula se torna um grande sacrifício. “O horário do intervalo e da
educação física são os piores, pois é nesses períodos que o bullying acontece”,
comenta o advogado Alexandre Saldanha, autor de livros sobre o assunto.
Vingança
Tanto
menina quanto menino que esteja acima do peso pode ser uma vítima do bullying.
Mas os especialistas são unânimes em dizer que geralmente é a garota que mais
sofre com ele. “Elas são alvo de intriga e fofoca. Sem contar que elas estão
mais sujeitas à ditadura da beleza, então para elas ser gorda é pior”, diz
Saldanha.
Depois
de passar um tempo sob humilhação, não é improvável que mesmo que ela gere uma
sequela. É bem comum que a vítima passe a ser o agressor e fazer a mesma coisa
com os colegas acima do peso. Mas a agressão não é de graça. De acordo com os
dados da pesquisa, em 39,4% dos casos
ela serve como mecanismo de defesa.
Para
resolver
Lidar
com xingamentos, risadas e humilhação não é, obviamente, nada fácil. Nem sempre
a vítima tem coragem de contar a alguém o que acontece e como se sente. A
solução pode vir de duas maneiras.
Uma
delas é contar à família. É ela que poderá procurar ajuda psicológica e ir à
escola para conversar com a direção . Mas se a pessoa quiser lidar sozinha com
o problema, a outra forma é conversar diretamente com algum orientador ou
pedagogo da escola. Geralmente ele é capaz de resolver a situação sem expor
mais ainda a vítima à turma.
Do
sofrimento à solução
Se
por um lado o bullying é traumático e tem consequências sérias, por outro pode
servir como estímulo à perda de peso. Para ser aceito – e se sentir bem –
muitas das vítimas partem para a dieta e academia, a dobradinha mais
recomendada pelos médicos.
Mas
claro que fechar aboca e entrar na academia não é tão fácil quanto parece. “A
oferta de comida não saudável é muito grande para os jovens. Eles se veem
diante de uma escolha difícil, que é sentir o prazer de comer ou ser magro e se
sentir bonito. Muitos escolhem a redução de peso”, diz o endocrinologista do
Centro de Obesidade Infantil do Hospital Sabará, de São Paulo, Felipe Lora.
A
recomendação do médico é ir em busca de um plano de tratamento, que envolve não
só atendimento médico, mas também um nutricionista, educador físico e psicólogo.
Mas, para que tudo isso dê certo, a família não pode ficar de fora. “A maioria
dos jovens obesos, 80%, são assim porque os pais também estão acima do peso.
Por isso a casa inteira tem de mudar. Caso contrário será mais difícil ter uma
dieta saudável enquanto pai e mãe continuam com a alimentação de antes”,
comenta Lora.
Porém,
em alguns casos, existe a possibilidade de cirurgia bariátrica para pacientes a
partir de 16 anos. Para fazê-la é preciso ter o Índice de Massa Corporal (IMC),
acima de 40.
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