segunda-feira, 20 de novembro de 2017
sábado, 18 de novembro de 2017
KARINA, 15 ANOS, SE MATOU COM MEDO DE VAZAMENTO DE FOTOS ÍNTIMAS E EM DECORRÊNCIA DO BULLYING SOFRIDO
A perseguição e o
bullying contra a adolescente de Nova Andradina (MS) não terminaram nem com a
sua morte.

Angela
Saifer, 46, estava no trabalho, numa usina açucareira, quando recebeu uma
mensagem da filha no WhatsApp perguntando se poderia sair de casa para fazer um
trabalho escolar. Eram cerca de 13h30 do último dia 7, uma terça-feira.
Aquele
seria seu último contato com a filha.
Karina
Saifer Oliveira, 15, aluna do primeiro ano do ensino médio em Nova Andradina, a
300 quilômetros de Campo Grande (MS), passava os dias entre a casa da mãe e a
do pai, Aparecido Oliveira, 47, agente de segurança da escola pública onde ela
estudava, a Nair Palácio de Souza.
Naquele
dia, ela almoçou na casa da mãe, junto com o padrasto. Quando Angela voltou da
usina, não a encontrou no quarto. "Ela era bem estudiosa. Até no dia em
que aconteceu isso daí, ela me mandou uma mensagem, falou: 'mãe, posso ir fazer
um trabalho? preciso de nota'. Eu perguntei onde era e ela não respondeu mais.
Aí eu fiquei meio preocupada, mas pensei que ela tivesse saído."
Karina,
porém, tinha ficado em casa. Enforcou-se na varanda.
O
celular dela estava em cima da cama. Chamei: 'Karina!'. Ela não respondeu. Eu
vi a porta do fundo aberta. Deixei minha mochila em cima da mesa. Na hora que
eu cheguei no fundo [onde fica a varanda], deparei com aquela cena. Jesus
Cristo! Eu não desejo isso para mãe nenhuma. A gente não sabe o que passa na
vida da gente. Se eu soubesse...", contou Angela, em entrevista ao
BuzzFeed News.
Karina
não dava sinais evidentes do que se passava com ela, disse a mãe. "Ela
sempre foi muito meiga. Ultimamente ela sentava no meu colo, jogava as pernas
para o lado, ficava passando a mão na minha cabeça. Eu perguntava se estava
acontecendo alguma coisa. E ela dizia que não. Só tô te abraçando, ela dizia.
Eu não sabia de nada."
Tinha
os desejos e planos normais, de adolescentes. "Ela fez 15 anos no dia 6 de
junho. O sonho dela era ter uma festa. A gente nunca teve condição de fazer.
Ela sempre falava que queria ser uma delegada, que queria estudar. O pai é
bacharel em Direito e ele sempre apoiava ela."
Mas
Karina estava vivendo um ano de inferno pessoal. Conhecera aos 14 anos um rapaz
de 17 com quem tivera uma relação sexual. A história se espalhou pela cidade,
de apenas 50 mil habitantes, e pela escola, de 900 alunos. Havia a fofoca de
que ele divulgara fotos íntimas dela, como um troféu. Não se sabe se as fotos
de fato existiam, mas o estrago estava feito.
"Faz
dois meses ela veio conversar comigo que ela estava se sentindo uma pessoa
vulgar porque tinha acontecido isso com ela. Eu disse que não tinha nada a
ver", contou o pai de Karina, Aparecido. "Eu só soube o que aconteceu
depois que o rapaz já não estava morando na cidade."
Esse
não era o único problema. Karina sofria perseguição de colegas na escola, que
implicavam com ela — e com seu cabelo. Filha de mãe branca e pai negro, ela
tinha o cabelo crespo e costumava alisá-lo.
"Ela
era muito perseguida na escola. Depois que ela morreu, nós pegamos mensagens de
alunos no WhatsApp dela, de ódio, de alunos que zoavam o cabelo dela por ser
meio afro, porque ela usava chapinha. Vinham há mais de ano provocando
ela", disse Aparecido.
"Não
sabíamos o que estava acontecendo. O problema do bullying é o silêncio",
afirmou o diretor da escola, Acácio Sampaio. "Vimos que ela estava triste,
com o olhar distante. Até que uma colega contou que ela havia tomado até um
veneno. Isso faz uns 15 dias. Nós a chamamos e ela se abriu, contou do
bullying, dos problemas. Chamamos o pai dela, que estava de férias.
Conversamos. Ela não se sentia bem com seu cabelo. Não identificamos quem fazia
o bullying mas temos conversado com todos os alunos."
"Ela
não gostava do cabelo porque as pessoas ficavam criticando o cabelo dela. Isso
é racismo", disse o pai. "Porque o bullying é uma coisa transitória.
Racismo é quando você mexe com uma coisa que você não pode mudar, como o
cabelo, a cor da pele", afirmou Aparecido. Ele contou que, por causa da
tristeza da filha, chegou a planejar uma mudança de cidade para contornar a
situação. Mas não deu tempo.
FOTOS
NO WHATSAPP
Uma
das irmãs de Karina recebeu uma foto do corpo da adolescente em um grupo de
WhatsApp, o que revoltou familiares. Era a cena do suicídio. "Só quem
entrou lá [na casa] foram o perito e a polícia. Eu fico me perguntando quem foi
que vazou essas fotos. Não entrou ninguém de estranho lá", lamentou a mãe
de Karina.
A
família prestou queixa do vazamento das imagens no 1º DP de Nova Andradina, que
investiga a morte da adolescente. O delegado Luiz Quirino Antunes Gago afirmou
que apura se houve quebra de sigilo funcional de quem trabalhou no acompanhamento
do caso, mas negou que o vazamento tenha sido por parte dos policiais. O
BuzzFeed News não localizou o perito que atuou no episódio.
O
delegado afirmou que nos próximos dias os laudos de necropsia devem confirmar o
suicídio por enforcamento de Karina. Ele disse que as investigações das
denúncias feitas pelo pai, de bullying, dificilmente terão efeito penal.
"Até
existe um crime no Código Penal [artigo 122], de instigação ao suicídio, mas
seria uma coisa de causa direta. No caso do bullying, tem um efeito simbólico
sobre o suicídio, mas não fala diretamente para a pessoa [se matar]."
LUTO
E BULLYING
O
diretor Acácio conta que Karina era uma aluna tranquila, que tirava boas notas.
Estava no colégio desde o 9º ano. Nas últimas semanas, a escola ainda exibia
cartazes de alerta do "Setembro Amarelo", mês de prevenção contra o
suicídio.
Na
sala de aula, os 32 colegas de Karina terão uma aula com uma psicóloga para
falar sobre luto e bullying. O diretor e as coordenadoras já tiveram com os
alunos o que Acácio considerou "conversas pesarosas", em que os
alunos falaram sobre como poderiam ter ajudado a colega. "Os alunos ficaram
com uma sensação de impotência. Estamos falando também sobre as fotos da morte,
para não compartilhar, porque isso é crime e faz a família sofrer ainda
mais."
Autora
da matéria: Tatiana Farah é Repórter do BuzzFeed e trabalha em São Paulo. Entre
em contato com ela pelo email tatiana.farah@buzzfeed.com.
Contact Tatiana Farah at
Tatiana.Farah@buzzfeed.com.
Fonte:
https://www.buzzfeed.com/tatianafarah/karina-15-se-matou-com-medo-do-vazamento-de-fotos-intimas-e?utm_term=.cjKMaWNvVO&ref=mobile_share#.cbkOd021bp
OPINIÃO
DE ALEXANDRE SALDANHA
A
gente sempre deseja o êxito em nossas metas. Eu sempre desejei viver em um
tempo de combate ao bullying. No Entanto, com notícias como essa, eu sinto um
tom sombrio de fracasso, uma tristeza desatinada que chancela a necessidade de
aperfeiçoamento naquilo que fazemos.
Quando
uma vida se perde vitimada por este assédio, todos nós que lutamos contra o
bullying também morremos e, por consequência, fracassamos.
É
preciso mais emprenho na luta pela prevenção e na punição pela omissão face à
casos como este.
Chegamos
ao tempo em que não existem mais eficientes políticas pedagógicas de prevenção
à esta modalidade de violência.
É
imperativo que se faça o que todo mundo já tem consciência da necessidade: é
preciso punir, é preciso leis duras que obrigue por bem ou por mal a prevenção
do bullying.
Também é necessário que sejam punidos severamente os autores dos vazamentos das fotos da jovem falecida.
quarta-feira, 8 de novembro de 2017
NOVO CONCEITO DE BULLYING
Compreende-se
por bullying escolar todo ato
assediador que ocorre entre colegas de classe em ambiente escolar ou acadêmico,
cujo resultado agride o equilíbrio psicológico de uma ou mais pessoas.
Já
o cyber-bullying é compreendido como assédio
moral sistemático praticado por uma pessoa ou um grupo delas por meio de
instrumentos eletrônicos e disseminada em ambiente cibernético contra um colega
de instituição de ensino.
Cabe
ressaltar que, a figura do bullying em
sua modalidade virtual pode ou não ser originado de uma relação de coleguismo de
classe. Em última análise, há casos em que o bullying iniciado ou disseminado em ambiente cibernético não tenha
sido oriundo de assédio moral ocorrido em ambiente escolar.
Pelo
exposto, conclui-se então que o bullying
escolar somente é o assédio iniciado em ambiente classificado como
instituição de ensino.
Já
a modalidade cibernética do assédio caracterizado como bullying, conhecida como cyberbullying,
ocorre somente em ambiente virtual compreendida na rede mundial de computadores
(internet) que ocorre entre uma ou mais pessoas havendo entre elas a relação de
vítimas e agressores.
Alexandre Saldanha
OAB-PR nº 47.535
Advogado, Palestrante, Escritor, Cientista,
Especialista em Bullying e Mobbing.
Alexandre Saldanha
OAB-PR nº 47.535
Advogado, Palestrante, Escritor, Cientista,
Especialista em Bullying e Mobbing.
sábado, 4 de novembro de 2017
COMENTÁRIOS AO CASO DE BULLYING RELATADO PELO JORNAL RN
Veja a reportagem no G1
O FUNDAMENTO LEGAL DA RESPONSABILIDADE DA ESCOLA PELO BULLYING OCORRIDO EM SEU ESTABELECIMENTO
A
responsabilidade indenizatória das instituições de ensino cabe nos casos de bullying porque é dever inerente do
serviço educacional evitar todo e qualquer tipo de lesão física e psicológica
ao aluno.
Quando
a instituição é omissa nos casos de bullying,
não cumprindo a obrigação de legal de evitar este tipo de evento danoso é que
se perfaz uma das modalidades de responsabilidade civil objetiva da instituição
de ensino.
Aqui
cabe salientar que, nas hipóteses em que a escola toma atitudes meramente
figurativas e inúteis para a resolução do problema, com o intuito de isentar-se
da sua responsabilidade não gerará excludentes de responsabilidade
indenizatória.
Na
mesma direção do preceituado aqui é a jurisprudência dos Tribunais do Distrito
Federal:
DIREITO CIVIL.
INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. ABALOS PSICOLÓGICOS DECORRENTES DE VIOLÊNCIA
ESCOLAR. BULLYING. OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA. SENTENÇA
REFORMADA. CONDENAÇÃO DO COLÉGIO. VALOR MÓDICO ATENDENDO-SE ÀS PECULIARIDADES
DO CASO.
Na espécie, restou
demonstrado nos autos que o recorrente sofreu agressões físicas e verbais de
alguns colegas de turma que iam muito além de pequenos atritos entre crianças
daquela idade, no interior do estabelecimento réu, durante todo o ano letivo de
2005. É certo que tais agressões, por si só, configuram dano moral cuja
responsabilidade de indenização seria do Colégio em razão de sua
responsabilidade objetiva. Com efeito, o Colégio réu tomou algumas medidas na
tentativa de contornar a situação, contudo, tais providências foram inócuas
para solucionar o problema, tendo em vista que as agressões se perpetuaram pelo
ano letivo (...) (DISTRITO FEDERAL, Apelação cível nº2006.03.1.008331-2, 2008)
Assinar:
Postagens (Atom)