Em
um mundo repleto de violência, narcisismo, hedonismo e consumismo egoísta,
educar crianças e jovens para que levem uma vida ética e pacífica em sociedade
tem sido uma das mais difíceis tarefas de pais e professores.
Nossa
sociedade tem cada vez mais e com mais veemência prendido-se em conceitos
líquidos como forma de embasamento de
suas vidas e relações humanas.
Em
épocas passadas os seres humanos tinham como meta alcançar uma noção de
felicidade que envolvesse a família, os amigos e seu trabalho, de modo a obter
bens materiais suficientes para garantir suas necessidades básicas e o conforto
pessoal e de seus descendentes.
Atualmente, as pessoas lutam em prol de um desbragado
acumulo de bens; bens estes que determinam a importância de cada sujeito dentro
de uma sociedade organizada.
De
certa forma, os bens materiais passaram a definir a essência das noções humanas
de felicidade, plenitude e respeito.
Daí
surgem e proliferam-se marcas de roupas, tendências de moda e tecnologia,
comportamento que, incontestavelmente, ditam as bases organizadoras das
posturas sociais.
Deste
mesmo berço nascem as mais variadas formas de preconceitos que pautam-se nas
pobres conceituações de respeito que firmam-se nas coisas que se tem e não em
quê se torna o ser humano.
Em
outras palavras, computadores, roupas, celulares e adornos estão por imputar na
sociedade uma noção sintética de felicidade, um respeito plástico, uma ode ao
ter e, o pior, o desprezo pelo ser.
Então,
posso, sem titubear, afirmo que estamos num mundo em que ter é poder, e quanto
mais se tem, sem ter qualquer necessidade real para isso, é o ápice do
prestígio e influência social.
Neste
ponto, o leitor me indaga o que toda essa elucubração tem com o título do
texto, ou seja, o que tem o consumismo de tão importante capaz de influenciar o
bullying escolar?
Ora,
caro leitor, é muito simples, acompanhe-me:
Quando
um objeto, uma coisa qualquer, tem ligação com respeitabilidade social, é quase
certo que torna-se um padrão obrigatório ter tal objeto para ser aceito ou
fazer parte do padrão de um determinado grupo.
Em
uma geração contaminada pelos modismos do consumo, as coisas se tornam óbolos de
respeito, o que faz com que as pessoas não sejam mais respeitadas pela forma
que nascem, mas, sim pelo que ostentam em possuir.
Não
possuir a coisa ostentada a título de modismo, pode simbolizar quedar-se no
ostracismo, ou cair em constantes chacotas escolares de cunho social, o que em
uma considerável parcela, passam para o estágio de ridicularizar a origem
familiar da vítima.
Denegrir
a família de uma criança ou jovem, é como destruir seu porto seguro, renegar
sua origem, diminuindo suas mais particulares raízes éticas.
Tendo
a base familiar que desconstruída pelo preconceito, a vítima de bullying perde facilmente sua identidade
social no espaço em que é agredida, e isso a torna mais frágil aos efeitos
nefastos desta modalidade assédio.
Sem
a certeza de que a família é a base de respeito, a vítima passa a agregar à si,
a certeza de que as coisas garantem sua paz social, o que retira seu foco da
necessidade de evoluir psicológica e intelectualmente.
Se
o burilar dos valores intrínsecos passam a não ter mais importância, é claro que o respeito pelas diferenças
culturais, sociais e econômicas passam a ter muito menos valor do que o
respeito pelas coisas que as pessoas tem.
Atualmente
percebe-se que muitas crianças e jovens são doutrinadas em seus lares e escolas
para se tornarem pessoas preparadas para um mundo competitivo, e não para
pertencerem ao meio organizado de forma solidária e ética.
Também
vemos o desvio dos conceitos trazidos para justificar a educação formal, pois,
é fácil perceber que muitas crianças e jovens estudam para alcançarem ascensão
social e poder aquisitivo para obterem bens materiais cada vez mais caros e em
maior escala, ao invés de instruírem-se para o auto conhecimento, para a
tolerância, para o respeito pelas diferenças e aperfeiçoamento do caráter.
É
óbvio que não se pode negar a importância de uma roupa de qualidade que projeta
o corpo do frio, mas, não se pode atribuir importância social para uma pessoa
com base na etiqueta do fabricante de suas roupas.
Também
é inegável que de forma crescente os aparelhos eletrônicos fazem parte da vida
cotidiana tanto em ambiente familiar quanto em ambientes escolares e laborais,
o que não se pode permitir é que obtenção ou não desses aparelhos sejam causa
para o aumento ou a diminuição do respeito que o caráter humano merece em
sociedade.
As
coisas nos servem para garantir o conforto e agilidade na vida cotidiana,
jamais para assegurar respeitabilidade ou ensejar a prática de assédio de
qualquer espécie.
Então,
é fundamental que a educação mude seu foco de modo a trazer como fundamento
protagonista a importância do caráter de cada pessoa, pois, é nesta
característica que estão contidos os valores pessoais de cada um.
Deves-se
também ressaltar que não é a obtenção do êxito nas competição socioeconômicos,
nem a desenfreada aquisição de bens materiais que torna uma pessoal respeitável
ou feliz, mas, sim a compreensão de si e de seus reais limites, necessidades e
capacidades, de forma a se comportar
conscientemente da necessidade de auxiliar e ser auxiliado.
Isso
assegurará a crianças e jovens que interagirão solidariamente entre si, sendo
atentas e respeitosas às diferenças socioculturais e valorizando os diferentes saberes pois, não
haverá competição objetivando a obtenção de coisas, mas, a admiração pelas
diferentes essências pessoais.
Essas
substituições dos paradigmas socioeducacionais familiares e escolares são
capazes de modificar positivamente os quadros sociais de bullying escolar fundamentado no consumismo, haja vista que as
crianças trocarão as coisas pelas essências humanas como fundamento de seus
focos de respeitabilidade.
Alexandre Saldanha
OAB-PR 47.535
Ativista Social
Especialista em Bullying
Especialista em Mobbing
Pós graduado em Direito Civil
Pós graduado em Direito Processual
Civil
Fundador da Liga Anti bullying
Fundador do Grupo Um Mundo sem
Bullying
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