terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O QUE APRENDI COM ZYGMUNT BAUMAN SOBRE AS RELAÇÕES HUMANAS LÍQUIDAS

As relações humanas passam por uma lenta degeneração de seus valores, sobre tudo nos últimos trinta anos em que o mundo observou atônita a sedimentação da cultura do ter, do parecer ser, do balizamento massificado das visões sociais do sujeito para que este pudesse encontrar suporte emocional e sentir-se aceito em algum dos seguimentos sociais.
Pois bem, é acertado então dizer que com o advento da internet as pessoas tornaram-se mutuamente ligadas e a solidão deixou de ser um dos males da alma humana posto que a conectividade diminuiu distancias e quebrou fronteiras.
Contudo, há de se ponderar que o evolutivo passo seguinte da conectividade humana tornou-se também um instrumento de dissimulação das incapacidades interativas interpessoais.
Com o advento das redes sociais as pessoas tiveram a possibilidade de conectarem-se com o mundo sem sair de suas casas. No entanto tornam-se repletas de relações superficiais e vazias de ligações emocionais em que a falsa sensação de bem querer social trazida pela gigantesca exposição social que se constrói com as múltiplas conexões virtuais que se é capaz de fazer.
Num mundo virtual todos sabem da vida de todos sem que nenhuma dessas relações sejam justapostas profundamente.
Essas relações poeiras são as causadoras da perpetuação de alguns dos mais antigos problemas sociais como a individualidade egoísta, a competitividade excessiva, o preconceito, a vaidade, a violência sem rosto e a depressão.
Com a perda progressiva das capacidades de se relacionarem fisicamente e emocionalmente uns com os outros as pessoas tornam-se meros avatares de seus alter egos embasados em seus bens materiais que ignoram a si mesmo com a finalidade de uma imediata aceitação social que não leva em conta as emoções individuais capazes de construir verdadeiras relações de interesse no outro, sendo esta última a verdadeira forma de relação intersubjetiva social.
É preciso conhecer o outro de fato, conversando, enxergando, tendo a presença para que seja possível atentar-se para a genuína forma de reação emocional, percebendo realmente as capacidades e limitações do interlocutor, para aí concluir sobre suas belezas que tornem o outro necessário.
Não há como conceber relações concretas sem a observação profunda do comportamento humano e de suas reações emocionais. Os vínculos arraigados em redes sociais são incapazes não dão importância para a profundidade posto que para que se agrade a muitos é preciso deixar de ser a si mesmo.
A solução que amenizará o efeito da liquefação das relações interpessoais é o redescobrimento por parte da sociedade da importância das relações sólidas construídas com o vagar do convívio considerando os sentimentos e pensamentos de cada um sem deixar de lado a própria personalidade em prol da passageira aceitação tribal ou da falsa sensação de acalento das passageiras e rasas relações cibernéticas.

Alexandre Saldanha
Advogado, Escritor, Especialista em Bullying, Mobbing e Direitos da Personalidade.

BIBLIOGRAFIA
Bauman Zygmunt, A VIDA LÍQUIDA, Editora ZAHAR. 1999. 2076 pg;
Bauman Zygmunt, A MODERNIDADE LÍQUIDA, Editora ZAHAR. 2001, 260 pg;
Bauman Zygmunt, AMOR LIQUIDO, SOBRE A FRAGILIDADE DOS LAÇOS HUMANOS, Editora ZAHAR. 2004, 162 pg.

Bauman Zygmunt, O MAL ESTAR PÓS MODERNO, Editora ZAHAR. 2004, 162 pg

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