Conforme
a literatura científica brasileira, o conceito de bullying é em suma, diferente
dos conceitos originais propostos por Olweus, o cientista precursor dos estudos
desta violência no mundo. Vejamos cada um destes conceitos brasileiros:
Cleo
Fante define bullying[1]
como “o desejo consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e
colocá-la sob tensão (...)”.
Para
Ana Beatriz Barbosa Silva[2],
o bullying “pode ser adotado para explicar todo tipo de comportamento
agressivo, cruel, proposital e sistemático inerente às relações interpessoais”.
Para
Lélio Braga Calhau, o bullying “é um assédio moral, são atos de desprezar,
denegrir, violentar, agredir, destruir a estrutura psíquica da outra pessoa sem
motivação alguma e de forma repetida”.[3]
Já
para Gabriel Chalita, bullying é o termo designado para descrever o “habito de usar a superioridade física para
intimidar, tiranizar, amedrontar, humilhar outra pessoa”.[4]
Todos
os conceitos acima descritos resumem o que Marie-France Hirigoyen[5]
compreende como assédio moral Vejamos:
“qualquer
conduta abusiva, manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, atos,
gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à
integridade física ou psíquica de uma pessoa (...)”
Em
verdade, o bullying é um gênero da espécie assédio moral. O assédio moral pode
ser praticado por qualquer grupo de pessoas, enquanto o bullying é de
exclusividade de crianças em idade escolar.
O
conceito técnico que mais se aproxima do original, criado por Dan Olweus e
aprimorado pela organização norte americana STOP BULLYING encontra-se na obra
Manual Antibullying, do autor Gustavo Teixeira. Neste livro o bullying é
conceituado como “comportamento agressivo entre estudantes. São atos de
agressão física, verbal ou moral ou psicológica que ocorrem de modo repetitivo,
sem motivação evidente, por um ou vários estudantes contra outro indivíduo, em
uma relação desigual de poder, normalmente dentro da escola.
Ao
trazer a baila todos os principais conceitos de bullying das mais respeitadas
obras brasileiras, observamos um evidente conflito de conceituação, que abre
precedentes para classificar como bullying diversos comportamentos agressivos
ocorrido nas relações intersubjetivas.
No
entanto, o conceito adotado por Olweus em seu estudo vestibular do tema é muito
específico, bem como o conceito adotado pela organização norte americana STOP
BULLYING.
Dan
Olweus definiu o bullying ou vitimização da seguinte forma geral: Um estudante
está sendo intimidado ou vitimado quando ele ou ela está exposto, repetidamente
e ao longo do tempo, a ações negativas por parte de um ou mais estudantes[6].
Já
o site da organização STOP BULLYING[7],
o conceito de bullying é compreendido como um comportamento, indesejado
agressivo entre crianças em idade escolar, que envolve um desequilíbrio de
poder real ou percebida. O comportamento é repetido, ou tem o potencial de ser
repetida, ao longo do tempo. Bullying inclui ações como fazer ameaças, espalhar
rumores, atacar alguém fisicamente ou verbalmente, e excluindo alguém de um
grupo de propósito.
No
mesmo site observa-se o que não pode ser considerado como bullying:
Apesar
de relatos da mídia, muitas vezes chamamos de comportamento, indesejado
agressivo entre os jovens adultos "bullying", isso não é exatamente
preciso. Muitas leis estaduais e federais abordam o bullying comportamentos
semelhantes neste grupo etário sob condições muito graves, como trotes, assédio
e perseguição. Além disso, a maioria dos jovens se sente desconfortáveis com
o termo bullying ao associá-lo com crianças em idade escolar[8].
Primeira
infância geralmente marca a primeira oportunidade para as crianças a
interagirem umas com as outras. Entre as idades de 3 e 5, as crianças estão
aprendendo a conviver umas com as outras, colaborar, compartilhar e entender
seus sentimentos. As crianças pequenas podem ser agressivas e agirem quando
raivosas ou quando não conseguem o que querem, mas isso não é bullying. Ainda
assim, há maneiras de ajudar as crianças[9].
A
partir da inteligência dos conceitos originais e aperfeiçoados do bullying,
percebemos que a doutrina brasileira abre precedentes para que muitas agressões
sejam classificadas como bullying.
Contudo
e considerarmos somente os conceitos observados na literatura original bem como
os aperfeiçoamentos realizados por seu criador, pode-se, somente, considerar
bullying as ações caracterizadas com a exposição continuada ao longo do tempo a
um comportamento repetitivamente agressivo entre crianças em idade escolar, que
envolve um desequilíbrio de poder.
[1] Fante, Cleo, Fenômeno Bullying:
como prevenir violência escolar e educar para a paz, Campinas, 2. Ed. rev e ampl.,
Editora Versus, 2005, p. 27
[2] Silva, Ana Beatriz Barbosa,
Bullying, Mentes Perigosas na Escola, Rio de Janeiro, Objetiva, 2010, p.22.
[3] Calhau, Lélio Braga, Bullying, o
que você precisa saber: identificação, prevenção, e repressão, 2ª ed. Niterói,
RJ, Impetus, 2010, p. 6.
[4] Chalita Gabriel, Pedagogia da
Amizade, Bullying, o sofrimento das vítimas e dos agressores, São Paulo, 4ª
ed., Editora Gente, 2008, p. 81.
[5] Hirigoyen, Marie-France. Assédio moral: a violência perversa
no cotidiano/ Marie-France Hirigoyen;
tradução de Maria Helena Kühner. 5ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002, p. 65.
[6] Olweus, Dan, Bullying At School, Editora Editora
Blackwell Publishing, 2006, p. 9. “ I define
bullying or victimization in the following general way: A student is being
bullied or victimized when he or she is exposed, repedly and over time, to
negative actions on the part of one or more other students.”
[7] Stop Bullying Org.: http://www.stopbullying.gov/what-is-bullying/definition/index.html,
acessado em 9 de novembro de 2012, às 20h:10. “Bullying is unwanted, aggressive
behavior among school aged children that involves a real or perceived power
imbalance. The behavior is repeated, or has the potential to be repeated, over
time. Bullying includes actions such as making threats, spreading rumors,
attacking someone physically or verbally, and excluding someone from a group on
purpose.”
[8] Stop Bullying Org.: http://www.stopbullying.gov/what-is-bullying/definition/index.html,
acessado em 9 de novembro de 2012, às 21h:20. “Although media reports often call unwanted, aggressive
behavior among young adults “bullying,” this is not exactly accurate. Many
state and federal laws address bullying-like behaviors in this age group under
very serious terms, such as hazing, harassment, and stalking. Additionally,
most young adults are uncomfortable with the term bullying—they associate it
with school-aged children.”
[9]Stop Bullying Org.: http://www.stopbullying.gov/what-is-bullying/definition/index.html,
acessado em 9 de novembro de 2012, às 21h:20. “Early childhood often marks the first opportunity for
young children to interact with each other. Between the ages of 3 and 5, kids
are learning how to get along with each
other, cooperate, share, and understand their feelings. Young children may be
aggressive and act out when they are angry or don’t get what they want, but
this is not bullying. Still, there are ways to help children.”