sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O COMPORTAMENTO DAS VÍTIMAS DE BULLYING E A RELAÇÃO COM A APRESENTAÇÃO DE ESTRESSE E DEPRESSÃO NESTES CASOS.



Originalmente o bullying é uma expressão para sinalizar o assédio moral praticado entre crianças e adolescentes, no entanto, nos anos de 2007 até 2011, ganhou enumeras variantes como o moblie bullying (bullying por mensagens de celular) e confundido com o mobbing, conhecido nos Estados Unidos e Inglaterra como bullying at the work e cyberbullying (bullying em ambiente virtual).
O bullying é um gênero de uma espécie de agressão denominada assédio moral, pois, segundo o conceito de Marie- France Hirigoyen[1], o assédio moral é um conjunto de atitudes perniciosas e imperceptíveis, praticadas no dia-a-dia, com a finalidade de humilhar o outro de forma perversa.
A exposição contínua aos ataques do bullying torna suas vítimas inseguras e pouco sociáveis, ato que dificulta o pedido de auxílio. Outras sequelas são: a passividade quanto às agressões sofridas, um círculo restrito de amizades, e muitos passam a ter baixo rendimento escolar, resistindo e simulando doenças com o interesse de não comparecer mais as aulas, ou até mesmo abandonando os estudos, e em casos mais sérios pode levar ao suicídio[2].
Conforme o professor Gustavo Teixeira[3], as vítimas de bullying apresentam comportamentos típicos.
Esse perfil psicológico é valioso para identificar vítimas de bullying sem expô-las a situações de inquirição direta, que são, na maioria das vezes, vexatórias. Vamos a análise desses perfis:
Conquista poucos amigos;
Desinteressa-se pelos estudos;
Passa o recreio sozinho;
Não possui um “melhor amigo”;
Tem medo de ir à escola;
Chega em casa com material rasgado;
Tem o dinheiro e outros pertences pessoais roubados com frequência;
Evita atividades escolares em grupo como passeios e ou atividades esportivas;
É xingado e ridicularizado ou recebe apelidos pejorativos por colegas da sala;
É agredido fisicamente sem ser capaz de se defender.
Nunca vai à casa de um colega da escola;
É excluído de brincadeiras em grupo;
Normalmente é o último a ser escolhido nos times de educação física;
Parece estar sempre desmotivado para ir à escola;
Fica inseguro e angustiado nos momentos de saída e entrada da aula;
Prefere a companhia de adultos na hora do recreio;
Mostra-se inseguro na sala de aula;
Diz preferir ficar sozinho na escola sem ter uma explicação para isso;
Nunca é convidado para festas de aniversário dos colegas da escola;
Apresenta queixas físicas como dores de cabeça enjoo ou indisposição nos momentos antecedentes à aula;
Quer mudar de escola, sem apresentar um motivo plausível.
Esses comportamentos geram um estado constante de estresse físico e mental que, em muitas vezes, resultam em graves patologias.
Para compreendermos os males do bullying na vida cotidiana das vítimas, é necessário compreender como o estresse age no corpo humano.
Vejamos o conceito de estresse e suas peculiaridades técnicas.
Estresse é essencialmente o grau de desgaste no corpo, que produz certas modificações na estrutura e na composição química. Algumas dessas modificações são sintomas de lesão física, outras são reações de adaptação que, servem como mecanismo de defesa contra o estresse.
O conjunto dessas modificações é conhecido como síndrome do estresse, é denominada como síndrome de adaptação geral (SAG), desenvolvida em três fases: reação de alarme, fase de resistência e fase da exaustão[4].
A reação de alarme subdivide-se em dois estágios, a  do choque e a do contra-choque. As alterações fisiológicas na fase de choque o indivíduo experimenta o estímulo estressor demasiadamente intenso.
Durante a Reação de Alarme, participa ativamente do conjunto das alterações fisiológicas o Sistema Nervos Autônomo (SNA). Este sistema trata-se de um conjunto neurológico que controla, de forma autônoma, todo o meio interno do organismo, através da ativação e inibição dos diversos sistemas, vísceras e glândulas[5].
Em outras palavras, as reações corporais desenvolvidas nesta fase são: dilatação das pupilas; estimulação do coração (palpitação), a noradrenalina, produzida nas glândulas supra-renais acelera os batimentos cardíacos e provoca uma alta de pressão arterial, o que permite uma melhor circulação do oxigênio; a respiração se altera (tornando-se ofegante) e os brônquios se dilatam para poderem receber maior quantidade de oxigênio; aumento na possibilidade de coagulação do sangue (para assim poder fechar possíveis ferimentos); o fígado libera o açúcar armazenado para que este seja usado pelos músculos; redistribuição da reserva sangüínea da pele e das vísceras para os músculos e cérebro; frieza nas mãos e pés; tensão nos músculos; inibição da digestão (inibição da produção de fluidos digestivos, inibição dos movimentos peristálticos do percurso gastrointestinal); Inibição da produção de saliva (boca seca)[6].
 A Fase de Resistência  caracteriza, basicamente, pela hiperatividade da glândula supra-renal sob influência do Hipotálamo, particularmente da Hipófise. Nesta fase, mais aguda, ocorre o aumento no volume da supra-renal, juntamente a uma atrofia do baço e das estruturas linfáticas, assim como um continuado aumento dos glóbulos brancos do sangue (leucocitose).
Dessa forma, a ação da Hipófise ao ativar todo o Sistema Endócrino ocorre porque o organismo precisa aumentar a concentração da quantidade de energia para a sua defesa. As descargas simpáticas na camada medular da Glândula Suprarrenal, ocasiona a liberação de catecolaminas nas situações emergenciais do estresse, ativando a glicogenólise no líquido extra-celular, e glicogênese no fígado, inibindo a insulina e estimulando o glucagon, estes dois últimos hormônios pancreáticos[7].
 De forma simplificada na fase de resistência o organismo é provido com fontes de energia rapidamente mobilizadas, aumentando a potencialidade para outras ações no caso de novos perigos imediatos serem acrescentados ao seu quadro de "Estresse" contínuo. O organismo procura ajustar-se a situação em que se encontra[8].
Na fase de exaustão há uma queda na imunidade e surgimento de doenças, como: dores vagas; taquicardia; alergias; psoríase; caspa e seborréia; hipertensão; diabete; herpes; graves infecções; problemas respiratórios (asma, rinite, tuberculose pulmonar); intoxicações; distúrbios gastrointestinais (úlcera, gastrite, diarréia, náuseas); alteração de peso; depressão; ansiedade; fobias; hiperatividade; hipervigilância; alterações no sono (insônia, pesadelos, sono em excesso); sintomas cognitivos como dificuldade de aprendizagem, lapsos de memória, dificuldade de concentração; bruxismo o que pode ocasionar a perda de dentes; envelhecimento; distúrbios no comportamento sexual e reprodutivo[9].
Ao explanarmos sobre todas as alterações biológicas que estresse causa a uma vítima, conclui-se com certeza que este estado físico compromete as relações sociais e acadêmicas de um aluno que é exposto continuamente as agressões do bullying.
Em casos nos quais a vítima é exposta sem trégua ao assédio moral do tipo bullying, é comum notar o acometimento de baixa auto estima e depressão em seus vários estados, o que necessita de acompanhamento profissional para amenizar os efeitos psicológicos da agressão.
Observemos os conceitos de depressão e seus efeitos psicossomáticos em suas vítimas.
A depressão, em especial nos casos de bullying, está intimamente ligada a perda ou a baixa da autoestima, a ausência de amor próprio é um dos sintomas mais característicos do bullying.
Conforme Andrew Solomon, a depressão “é a imperfeição no amor. Para podermos amar, temos que ser criaturas capazes de se desesperar ante as perdas, e a depressão é o mecanismo desse desespero. Quando ela chega, degrada o eu da pessoa e finalmente eclipsa sua capacidade de dar ou receber afeição[10]”.
A depressão deve ser acompanhada por sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo nas relações sociais, profissionais ou por outras áreas da vida cotidiana do indivíduo[11].
A manifestação típica da depressão depende sempre da maneira como ocorreu o episódio depressivo, ou, da forma atípica quando a depressão se manifesta sem a ocorrência de qualquer episódio depressivo[12].
Conforme o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais,[13] os transtornos depressivos são classificados da seguinte forma:
Transtorno Depressivo Maior é caracterizado quando há um ou mais episódios depressivos maiores como humor deprimido e perda de interesse, por pelo período mínimo de duas semanas e acompanhados por quatro sintomas comuns da depressão.
Transtorno Distímico é caracterizado por humor deprimido durante o período mínimo de dois anos, acompanhado por sintomas depressivos adicionais que não satisfazem os critérios para um episódio depressivo maior.
Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação[14] são os transtornos com características depressivas que não satisfazem os critérios para:
 Transtorno Depressivo Maior,
Transtorno Distímico,
Transtorno da Adaptação Com Humor Depressivo ou,
Transtorno da Adaptação Misto de Ansiedade e Depressão.
A partir desses conceitos concluí-se que o bullying é um tipo de assédio moral que causa danos morais e materiais para a vítima.
 Concluí-se também que a vítima do bullying desenvolve um processo depressivo devido à alta carga de estresse diário, o que compromete sua psique e seu físico, impedindo-a de praticar a contento suas atividades sociais e acadêmicas.
Concluí-se finalmente que, este estado doentio do corpo e da mente necessita de tratamento especializado, o que despende dinheiro e tempo dos familiares da vítima.
ALEXANDRE SALDANHA
OAB-PR nº 47.535
ADVOGADO, ESCRITOR, CIENTISTA, PALESTRANTE, ATIVISTA SOCIAL, BLOGUEIRO.
FUNDADOR DA LIGA ATNI-BULLYING
ESPECIALISTA EM BULLYING
ESPECIALISTA EM MOBBING
ESPECIALISTA EM DIREITOS DA PERSONALIDADE
PÓS-GRADUADO EM DIREITO CIVIL
PÓS-GRADUADO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL








[1] Fante, Cleo, Bullying escolar: perguntas & respostas/ Cleo Fante José Augusto Pedra.-Porto Alegre: Artmed 2008,  p.76
[2] Abrapia. Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção a Infância e a Adolescência Programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes, disponível em:http:// www.bullyng.com.br, acesso em 20/jun/2007.
[3] Teixeira Gustavo, Manual Antibullying para alunos, pais, e professores, Rio de Janeiro, Best-seller, 2011, p.64 à p 66.
[4] Seleye Hans, Stress a tensão da vida, Editora Ibrsa, 1965, p.01.
[5] Ballone GJ, Moura EC - Estresse - Fisiologia - in. PsiqWeb, Internet, disponível emwww.psiqweb.med.br, revisto em 2008.
[6] Fonte: http://www.marcelomarcia.na-web.net/estresse.html, acessado dia 30 de novembro de 2012, às 14h: 37 min.
[7] Ballone GJ, Moura EC - Estresse - Fisiologia - in. PsiqWeb, Op.Cit.
[10] Solomon Andrew, O demônio da meia noite: uma anatomia da depressão, Rio de Janeiro, Objetiva, São Paulo, p.17.
[11] Joubert, J., Reid, C., Joubert, L., Barton, D., Ruth, D., Jackson, D., Sullivan, J. O., & Davis, S. M. (2006).  Risk factor management and depression post-stroke: The value of an integrated model of care. Journal of Clinical Neuroscience, 13(1), 84-90.
[12] Paula, Margareth Pereira de; Pinto, Kátia Osternack  e  Lucia, Mara Cristina Souza de. Relação entre depressão e disfunção cognitiva em pacientes após acidente vascular cerebral: um estudo teórico. Psicol. hosp. (São Paulo) [online]. 2008, vol.6, n.1, pp. 21-38. ISSN 1677-7409. 
[13] Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (2002). DSM-IV-TR. 4ª ed., Texto Revisado. São Paulo: Artmed
[14] Paula, Margareth Pereira de; Pinto, Kátia Osternack  e  Lucia, Mara Cristina Souza de. Relação entre depressão e disfunção cognitiva em pacientes após acidente vascular cerebral: um estudo teórico. Op.Cit.