quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A VIOLENCIA INFANTIL E OS VALORES EDUCACIONAIS FAMILIARES E ESCOLARES.


A violência escolar relaciona-se intimamente com a postura de competição social  como forma de acumulo de bens materiais e prestígio nas relações intersubjetivas.
Esta postura competitiva contaminou os conceitos sociais e sobremaneira as técnicas educacionais da sociedade, gerando uma ideologia de conquista pela derrota.
Como conseqüência disso as famílias ao invés de educar seus rebentos para conviver de forma fraternal e colaborativa na sociedade; doutrina-os para a instrução com a finalidade de tornarem-se melhores do que seus próximos, e por isso, alçarem postos de maior prestígio social com remunerações financeiras cada vez maiores.
As escolas por sua vez, amoldam-se de forma a suprir as expectativas competitivas desses modernos modelos de núcleo familiar.
As escolas priorizam a competição de forma a treinarem seus alunos para competir entre si, apreciando a sobreposição dos melhores sob os que apresentaram menor rendimento.
Da mesma forma treinam professores para que levem a cabo um modelo de ensino massificado em que alunos são clientes e as escolas são grandes centros de treinamento aos moldes quase militares pregando a conquista pessoal através da derrota do desafiante.
A educação tem se resumido a aquisição de formas e técnicas para vencer sozinho e não conviver, respeitar, esclarecer e cooperar. As escolas precisam aprender que uma educação afetuosa tem mais eficiência social do que a educação competitiva.
Neste modelo de educação seguida por muitas famílias e reafirmada por muitas escolas, valores como solidariedade, caridade, cooperativismo dão lugar a valores menos essenciais como resultados profissionalmente admiráveis a todo custo e a superação dos interesses egoísticos sobre os interesses do bem coletivo.
Essa postura competitiva impede que as crianças admirem os valores éticos, culturais que formam o caráter e as capacidades dos seus colegas porque admirá-los significará admitir sua superioridade, e por sua vez,  também admitir que não seja bom o suficiente.
Quanto mais acirrada é a competição por qualquer tipo de poder, mais dispostas à crueldade as pessoas se condicionam[1].
Se houvesse uma postura de cooperação e interação, certamente as crianças pensariam desde cedo na possibilidade juntar suas capacidades com as de seus pares para alcançar determinado propósito sem precisar competir uma com as outras. Também veríamos pessoas mais atentas aos valores impressos no caráter ao invés dos valores aparentados pelos bens materiais.
Sem a menor dúvida, afirmo que adoção de posturas colaborativas impedirá que atos de violência ganhem força e expressividade, pois, só na competição desmedida existe frustração e o sentido de derrota ou vitória embotado de egoísmo.
A violência escolar não amenizará apenas com o advento de leis, embora Leis sempre tenham o caráter de regrar a vida humana para garantir a pacificação social.
A mudança no espírito das idéias competitivas da educação para idéias mais cooperativas, solidárias e amorosas é a verdadeira forma de vencer a violência, porque nem todos obedecem às leis, mas, todos seguem um modelo de educação.
Leis inibem o comportamento, a educação transforma.
Não sou educador, não sou professor, mas,  na qualidade de aluno e ex-vítima da violência escolar, vi o suficiente para compreender o caminho não é educar para competir, mas, educar para conviver.
Alexandre Saldanha Tobias Soares
Advogado OAB-PR nº 47.535


[1] Segundo Michel Foucault, no seu livro Microfísica do poder, a crueldade é inerente às relações de disputa por uma ficção social chamada de poder.