terça-feira, 1 de novembro de 2011

A RELAÇÃO ENTRE O BULLYING NA MINHA VIDA E MEU IDEAL COMO ATIVISTA SOCIAL


O bullying é uma das formas mais traiçoeiras e letais de violência, que só depois de inúmeras demonstrações de sua brutalidade começou a ser estudada e evitada.
O bullying retira a auto-estima, nos afasta dos sonhos, traz sofrimento, solidão e vergonha.
Esta definição de bullying não foi retirada dos manuais de psicologia ou psiquiatria. Esta definição é a mais próxima que a minha consciência permitiu chegar.
Fui vítima do bullying por quase toda minha vida escolar (dez anos de perseguições ao todo). Fui uma criança “gordinha” e com problemas motores que não conseguia jogar bola e nem era tão ágil para brincadeiras em grupo.
Na adolescência minhas limitações motoras, sequela da hemiparesia direita[1], adquirida por conta da prematuridade do meu nascimento, rederam-me o isolamento e várias gozações perversas por parte dos meus colegas.
Devo salientar que também sofri bullying em outras instituições de ensino por ser uma criança obesa e por causa de minha condição motora. Entretanto, de todos os locais em que estudei, o que mais fui cruelmente assediado foi enquanto aluno da mencionada escola. E foi nesta ocasião que conheci ao pior face do bullying, o que mudaria a minha vida para sempre.
Eu fui aluno de um grande grupo educacional no ano de 1998. Para mim, esse fato era a realização um sonho de infância: “Estudar naquele colégio”.
É a primeira e será a única vez que contarei sobre minha passagem pelo referido colégio, pois, além de desagradável, é antiético. E só estou fazendo isso agora porque acredito que posso ajudar as vítimas de bullying a superar os traumas, demonstrando que há a possibilidade de superação e de transformação do ódio em amor ao próximo.
O bullying que sofri concernia em apelidos como “gardenau”, “paralisado”, “coisa”, “aberração” com o comportamento hostil da turma, ridicularização pública e diária, e o isolamento.
No início tudo acontecia dentro da sala de aula, no pátio durante recreio e nas aulas de educação física.
Este problema foi levado para a coordenação pedagógica que sugeriu uma mudança de sala.
Pois bem, mudei de turma, para a sala ao lado para tentar me recompor e me livrar dos problemas com a antiga turma. Ledo engano!
Como as turmas interagiam entre si, logo todos souberam dos apelidos e também começaram a ofender de forma igual à turma anterior.
Novamente esse problema foi levado à orientação, que tomou duas mediadas no mínio errôneas: a primeira foi chamar alguns dos meus agressores para tomarem broncas e me pedirem desculpas dentro do gabinete da orientação. A segunda foi entrar em sala de aula e fazer os demais agressores pedirem desculpas à mm.
Essas “medidas pedagógicas” pioraram a minha situação porque além de fomentar o ódio dos demais alunos, meus apelidos se espalharam pelo bloco inteiro e eu tive que, diariamente me isolar dos alunos na hora do recreio para não ser ridicularizado.
Os problemas permaneceram, as agressões, verbais e o isolamento social pioraram, e os profissionais do colégio não tinham conhecimento necessário para tratar do problema, pois, além de afirmar que era uma fase da idade, também afirmava que o problema era eu.
Até que, tive que ser transferido de instituição, porque se tornou insuportável a permanência lá.
Eu conheci o ápice de um problema social que hoje se chama bullying dentro de um reduto em que estudavam os rebentos das mais altas estirpes socais do meu Estado.
Desde então decidi que estudaria a fundo uma forma de proteger quem sofre este tipo de agressão.
Agora quem ler esta carta me perguntará: Como você fez para superar o bullying?
Eu respondo-lhe que é simples! Transformei esse problema em uma oportunidade de melhorar como pessoa, como profissional, e principalmente, uma forma de auxiliar as pessoas.
Há sete anos me dedico às pesquisas científicas sobre o bullying, criei a ciência jurídica focada exclusivamente para tratar dos casos de indenização pelos danos do bullying.
Vejamos um pouco da minha trajetória relacionada com o tema bullying:
Em 2005, orientado pelo Professor Doutor Clayton Reis, iniciou sua pesquisa para adaptar o bullying a responsabilidade civil, de forma a analisar os danos causados por esta agressão igualando-a ao assédio moral para poder responsabilizar a escola pelos casos de bullying ocorridos dentro de suas instalações.
Em 2007 iniciei meus trabalhos de composição científica do trabalho de conclusão de curso de Direito, sendo também orientado pelas Professoras de Metodologia da Pesquisa: Barbara Abib Neves Matos e Ângela Zatti. Em dezembro do mesmo ano o trabalho é submetido à banca formada pelos seguintes professores: Dr. Clayton Reis, Dra. Julieta Saboia Cordeiro e Dr. Geraldo Doni Jr. O referido trabalho foi avaliado e aprovado com louvor com a nota máxima.
Em 2008, iniciei o processo de aprimoramento da monografia para transformá-la em livro. Durante este período contou com a orientação técnica jurídica do Professor Dr. Clayton Reis e metodológica da Professora Ângela Zatti. É no mesmo ano que seu trabalho começa a ser reconhecido e a ser entrevistado por vários jornais e sua pesquisa citada em várias páginas do mundo.
No mesmo ano me pós graduei em Direito Civil e Direito Processual Civil.
Em 2010 estive presente na votação da lei anti bullying Curitibana, Proposta pelos Vereadores Pedro Paulo e Mario Celso. No mesmo ano inicia uma temporada de palestras em diversas faculdades para debater sobre o tema bullying sob a ótica do direito.
Em 2011 Fundei a LIGA ANTI-BULLYING (Grupo formado, exclusivamente por de ativistas anti-bullying e profissionais de educação), em parceria com o Projeto Faça Amizades Bullying Não. Esse projeto juntou ativistas sociais do Brasil, da América Latina e da Europa. Hoje conta com mais de 300 membros.
Desde 2011 mantenho o blog Bullying e Direito, espaço em que escrevo textos científicos jurídicos, filódicos e educacionais sobre o bullying; posto vídeos, notícias, reportagens sobre o tema; e indico livros, blogs, sites, filmes e músicas que tem como tema central o bullying.
Em 2012, aos 28 anos de idade, recebi o prêmio Moção de Aplausos, concedida pela Comissão de Direitos Humanos da OAB da 4ª subseção Rio Claro, SP, em reconhecimento aos trabalhos desenvolvidos para prevenção do Bullying, em prol da Cidadania, dos Sujeitos Titulares de Direitos Humanos, da Sociedade Doméstica e da Comunidade Internacional.
O segredo para superar é trocar a perspectiva da visão que este problema traz para sua vida:
Aprendi que devemos ser a mudança que esperamos nas nossas vidas.
E por isso dediquei minha juventude para pesquisar formas de prevenir e frear o bullying, e também adequá-lo ao mundo da responsabilidade civil (ramo do direito que trata de indenizações por danos morais e materiais).
Transformar do fogo do ódio em uma chama de esperança e fé para um caminho de evolução humana e espiritual fez toda a diferença.
O bullying mudou minha vida. Trouxe sofrimento é claro, mas, me ensinou a não ser uma vítima da circunstância, e superar o medo, a respeitar e amar o próximo, a fazer novos amigos, me inclinou para as artes, as ciências e para a literatura.
O bullying trouxe um ideal, um sonho, uma filosofia de vida que busca a justiça e o respeito por meio da troca de informação e do diálogo entre culturas e conhecimentos.
Não somos melhores nem mais capazes do que ninguém, apenas temos conhecimentos e capacidades diferentes. E essas capacidades quando unidas transformam a realidade, melhoram o mundo e levam luz aonde há escuridão.
Em resumo, minha vida científica é um tributo às vítimas que não sobreviveram a essa terrível agressão e partiram deste mundo sem presenciar o inicio de uma era em que o mundo desperta a consciência para o combate ao bullying.
PRODUÇÃO CIENTÍFICA E LITERÁRIA
MONOGRAFIAS

A RESPONSABILIDADE CIVIL DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO EM RELAÇÃO AO EFEITO BULLYING (Trabalho de Conclusão do Curso de Direito na Universidade Tuiutí do Paraná). 2007

A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS PELOS ATOS DE BULLYING PRATICADOS POR SEUS FILHOS (Trabalho de Conclusão do Curso de Pós- graduação Latu sensu em Direito Civil e Dirieto Processual Civil na Unicuritiba). 2009

BIBLIOGRAFIA
A RESPONSABILIDADE CIVIL DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO EM RELAÇÃO AOS EFEITOS DO BULLYING (Editora e Livraria JM) 2011.

BULLYING, A ORIGEM DO MAL (Editora Online Corujito) 2012.

NOVAS PERSPECTIVAS SOBRE BULLYING E OUTROS ENSAIOS (Editora Online Corujito) 2012.

BULLYING, A IMPRESSÃO DA IMPRENSA (Editora Online Corujito) 2012

DISCURSOS SOBRE BULLYING (Editora Online Corujito) 2013

CADERNOS LEGAIS SOBRE BULLYING  (Editora Online Corujito) 2013

BULLYING E DIREITO (Editora Online Corujito) 2013



"UM CARA DE SORTE"
Sempre falo que me identifico com essa canção do DETONAUTAS ROQUE CLUBE. Parece que ela fala muito do que houve na minha vida.



[1] O termo Paralisia Cerebral (PC) é usado para definir qualquer desordem, caracterizada por distúrbios da motricidade (alterações do movimento, do tónus muscular, da postura, do equilíbrio, da coordenação, com presença variável de movimentos involuntários) resultante duma lesão não progressiva do cérebro em desenvolvimento que ocorre desde a gestação até sensivelmente aos quatro anos de idade.
Esta patologia tem uma incidência de 1-2 crianças afetadas para 1000, sendo dez vezes mais comum nos recém-nascidos prematuros. (fonte: http://www.hemiparesia.com/ acesso em 29/11/ 2009, às 13h:32min)