“E se nós fôssemos todos cegos?”, ao que ele mesmo responde:
“Mas nós estamos realmente todos cegos! Cegos da razão, cegos da
sensibilidade…”. (José Saramago)
Nunca
a sociedade viveu tanto na caverna de Platão quanto nos tempos atuais. Nunca as
pessoas se contentaram tanto com a sobra da mentira disfarçada de simulacro da
realidade.
A
sociedade moderna encontra-se num momento em que o sentimento dá lugar ao senso
das experiências sintéticas, das belezas fabricadas, dos valores líquidos e da
coisificação da vida humana.
A
beleza perdeu sua essência, seu encanto e ganhou preço, tamanho, forma e marca.
Ter
é mais belo do que ser. Ter um corpo talhado é mais belo do que conquistar uma
alma pura e uma mente sã e culta.
Ter
coisas de incalculável valor monetário é mais belo do que ser detentor do senso
para observar as sutilezas dos momentos mais simples da vida.
A
cada período se passa, a humanidade procura a beleza de suas carcaças, a
simetria perfeita das formas que vestem suas almas, e esquecem por completo, da
pureza de suas naturezas.
A
beleza não é mais a conquistada com o burilar do caráter e com generosidade dos
atos cotidianos, mas sim, com a forma exterior fabricada por meio da
reconstrução estética que, pode ser comprada e vendida com a finalidade de
satisfazer o narcisismo, a lasciva e vaidade mesquinha da alma.
Jovens
desejam satisfazer sentimentos sexuais cada vez mais primitivos, desejam
relações intersubjetivas cada vez mais fugazes e imediatistas. Em nenhuma outra
época foi tão fácil ter sexo e, ao mesmo tempo, tão difícil se conquistar amor.
Com
isso concluí-se que essa moderna beleza sintética esvazia a mente, prostitui a
dignidade, apodrece o coração e degenera os valores da verdadeira beleza da
natureza humana.
Mas,
o pior deste conceito é a sua incontestável contribuição para as brutalidades
do ser humano. Esse conceito fechado e genérico de beleza plástica acarreta sobremaneira
para propagação da intolerância, do preconceito e da violência, pois, as
pessoas costumam rechaçar as próprias incapacidades e frustrações quando
tripudiam as características físicas do outro.
A
capacidade de aceitar a si próprio como um ser perfeito dentro de suas
condições naturais, e por isso, detentor de beleza única em sua singularidade,
consiste no caminho para a pacificação das relações sociais.
Acredito
que a beleza, enquanto característica de notável admiração social deve nascer
do binômio caráter e atitude.
Esse
binômio é capaz de cativar as emoções mais puras nas relações sociais, porque
imprime na alma a afeição inabalável da beleza interior de quem cativa.
Sendo
assim, não poderá qualquer noção massificada fugaz, nem ação deletéria do tempo
na plasticidade no corpo físico, abalar a essência da beleza cativada na alma.
Ao
passo que, a mera beleza física não passa de um momento de parnasianismo
passageiro, uma vez que não passa de uma visão distorcida da realidade.
A
realidade é que, apenas o sentimento de bem querer essencial é capaz de tornar
qualquer pessoa bela, como de fato é.
A
construção plástica de uma simetria física da estrutura humana, nunca fará do
corpo algo verdadeiramente belo e perfeito, livre dos defeitos, manchas, e
imperfeições que, vez por outra são maquiados.
Neste
sentido, temos o ensinamento de José Saramago[1]
numa metáfora alusiva a Romeu e Julieta em que fica demonstrado que apenas a
beleza plástica do corpo não é capaz de arraigar simpatia duradoura na alma.
Se
o Romeu da história tivesse os olhos do falcão, certamente, não se apaixonaria
pela Julieta, porque os olhos dele não veriam uma pele agradável de ver.
Porque
com a acuidade visual do falcão, não mostraria a pele tal qual a vemos.
Ao
fim, concluí-se que noção moderna de beleza física cultua uma estética
passageira e extremamente deteriorável, que serve apenas, para satisfazer fins
egoístas de uma ditadura social.
Ao
passo que a beleza interna é construída com experiências de vida, sentimentos
que aperfeiçoam a psique e oportunizam o encanto pela essência do caráter. E
está beleza é inesgotável, atemporal e imune aos modismos da ditadura
socioeconômica.
Por
que a felicidade da vida em ver a beleza em todas as coisas e criaturas do
mundo está num pequeno segredo de Antoine de Saint-Exupéry[2]:
“(...)
só se vê bem com o coração. O essencial é
invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves
esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."
Apenas
no dia em que a humanidade se tornar sensível às sutilezas da beleza interior,
apenas do dia em que homens, mulheres e crianças puderem ver através da janela
da alma é que teremos o verdadeiro sentido da beleza.
E
então, será neste dia que construiremos o verdadeiro respeito, o sincero amor e
conquistaremos a tão almejada pequena medida de paz chamada felicidade.
Alexandre
Saldanha
OAB-PR
nº 47.535
Advogado,
Cientista, Escritor, Palestrante, Ativista Social, Blogueiro;
Pós-graduado
em Direito Civil
Pós-graduado
e Direito Processual Civil
Especialista
em Bullying
Especialista
em Mobbing
Fundador
da Liga Anti-Bullying no Facebook
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